Quando ela se maquiava, apareciam lesões por todo o rosto. “Apareciam bolhas na pele, que davam uma coceira insuportável”, conta Glaucia Cutini, 55 anos. Demorou até que ela descobriu que o problema tem nome: dermatite herpetiforme.
A doença é a manifestação comum em celíacos, aquelas pessoas que sofrem uma reação grave quando entram em contato com o glúten. Ou seja, elas não podem comer nada que tenha trigo, aveia, cevada ou centeio, por exemplo.
O que nem todo mundo sabe, inclusive muita gente que tem a doença celíaca, é que cosméticos e medicamentos também escondem um perigo. “A pessoa pode ter a doença celíaca e não ter sintoma nenhum. Mas o contato com produtos de beleza com glúten deixa feridas horrorosas na pele. Que é a dermatite herpetiforme”, explica a gastroenterologista e nutróloga Christian Kelly Ponzo, que é consultora científica da Associação dos Celíacos do Espírito Santo (Aceles).
A doença também pode se manifestar na pele sem que a culpa seja do cosmético. “Tive uma paciente que vivia com lesões na pele. Ela tinha uma lanchonete, então o problema era manusear e aspirar o glúten todos os dias. Nem era a maquiagem”, conta a médica nutróloga Sandra Lúcia Fernandes.
Até batom
Porém, segundo Christian Kelly, nem todo celíaco tem essa dermatite. “Mesmo sem manifestar o problema na pele, o paciente não pode usar produtos com glúten, como xampu, hidratante, um filtro solar ou até um batom”.
Uma dificuldade é identificar a presença dessa substância em cosméticos, uma vez que a legislação não obriga o fabricante a colocar essa observação no rótulo, ao contrário do que ocorre com alimentos e medicamentos. Sem falar, aponta Christian Kelly, que a substância pode aparecer com outro nome na embalagem.
O glúten serve como um aglutinante em boa parte de produtos de beleza. E extratos de trigo, cevada e aveia são usados para acalmar e suavizar a pele. “Por isso, é preciso imprimir a lista de nomes e colocar na bolsa. O paciente vai ter que gastar um tempinho a mais no supermercado para comprar o shampoo para não ter risco”, diz a médica.
Vale escolher uma farmácia de confiança. “Se for mandar manipular um remédio com cápsula glúten free, o laboratório tem que dar tranquilidade de que aquele ambiente onde o remédio vai ser manipulado não sofreu contaminação”.
Muitos laboratórios, aliás, já estão atentos à necessidade de se adequar a essa demanda. “A gente atende a um número cada vez maior de celíacos ou de pessoas que estão fazendo uma dieta livre de glúten. Por isso, nossa área de manipulação é toda separada do resto. Não tem risco de contaminação”, diz a farmacêutica Luíza Scardua. “Problemas com remédios ou cosméticos são mais raros. Mas a pessoa deve saber que é uma vida sem glúten! Não é só alimentação”, diz Sandra.
Atenção
Várias doenças
Há três doenças relacionadas a problemas com glúten: a doença celíaca, a alergia ao trigo e a sensibilidade ao glúten não celíaca.
Doença celíaca
É uma doença autoimune, ou seja, as próprias células de defesa imunológica agridem as células do organismo, causando um processo inflamatório. Essa inflamação é provocada pelo glúten, proteína presente no trigo, cevada e centeio. O intestino é a parte afetada, que sofre para absorver nutrientes.
Contêm glúten
Trigo, cevada, centeio, aveia, malte, tudo isso leva glúten. O nome pode estar em inglês ou na denominação botânica. A aveia, por exemplo, pode aparecer no rótulo do xampu como avena sativa. Por isso, é preciso imprimir uma lista de nomes e carregar na bolsa ou carteira.
Sintomas
Diarreia, prisão de ventre, perda de peso, anemia, sensação de estufamento, cólica e desconforto abdominal são sintomas clássicos. Mas a doença pode ser assintomática.
Na pele
Muitas vezes, a doença se manifesta na pele. É a chamada dermatite herpetiforme, quando a pessoa tem lesões na pele após o contato com glúten.
Produtos
Todo celíaco deve ler rótulos de alimentos e de cosméticos como xampus, hidratantes e até batons. O mesmo vale para medicamentos. Muitas vezes, vale mandar manipular o produto em um laboratório de confiança.
Tratamento
Não existe um tratamento específico para o celíaco. Basicamente, a pessoa deve evitar qualquer tipo de contato com o glúten, seja pela alimentação, seja pela pele ou ingestão de medicamentos.
Riscos
O celíaco pode ter dois tipos de problemas na hora de consumir certos produtos: a contaminação cruzada - quando partículas ou traços do glúten passam de um alimento para outro ou quando um produto ou objeto é manipulado em ambiente contaminado - e o glúten escondido.
Cuidados
Um celíaco não pode nem entrar numa padaria. A alimentação deve ser totalmente livre de glúten. Isso significa excluir massas e doces, bebidas alcoólicas e outros itens. Cosméticos e medicamentos também não podem conter traços da substância. Panelas, talheres e outros utensílios domésticos, como liquidificador e sanduicheira, devem ser separados para produzir os alimentos da pessoa com doença celíaca para evitar contaminação.
Fonte: Gazeta Online
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